O perigo de um acidente terrível ronda as mulheres da Amazônia: o escalpelamento. A palavra vem de escalpo, o couro cabeludo arrancado do crânio, que era um troféu de guerra para os índios americanos. Na Amazônia, o que provoca o escalpelamento é um acidente nos barcos. Centenas de mulheres e crianças já foram vítimas. Um drama que a maior parte do Brasil nem sabe que existe.
O motor do progresso vem mutilando o corpo e alma dos ribeirinhos. Estas meninas vão carregar um drama para o resto da vida. Elas são vítimas de escalpelamento. Tiveram o couro cabeludo arrancado do crânio e nunca mais terão os cabelos de volta.
Vítima 1 - "Meu cabelo era tudo pra mim"
Vítima 1 - "Meu cabelo era tudo pra mim"
Vítima 2 - "Já foram 16 cirurgias e continuo em tratamento"
Vítima 3 - "Tem vezes que eu choro, às vezes eu tô no espelho é horrível a situação"
O escalpelamento acontece dentro dessas embarcações sem segurança nenhuma. O motor e o eixo são descobertos pondo em risco quem se aproxima. Veja agora como acontece o acidente: Quando o motor é ligado, o eixo gira em alta velocidade. Durante a viagem, é comum o barco ficar alagado e os passageiros têm que tirar o excesso d'água. Ao se aproximar do eixo, centenas de meninas e crianças da Amazônia foram sugadas e tiveram o couro cabeludo arrancado.
"Eu me abaixei e o motor pegou, o eixo do motor pegou o meu cabelo eu desmaiei imediatamente", conta Tássia Souza, uma das vítimas. "Eu fui me abaixar pra pegar a vasilha pra tirar água", diz Delziane Pantoja, outra vítima. A repórter pergunta: Com você foi mais grave porque o cabelo estava preso no momento do acidente? "Foi escalpe total, porque aí pega tudo, quando tá solto não, tem a possibilidade de pegar só a metade", explica a vítima.
Esta garota, de apenas sete anos, perdeu o couro cabeludo e teve uma orelha decepada. Joice se aproximou do motor do barco do pai dela e foi arrastada pra baixo do eixo. Ela conta que tinha os cabelos compridos que nem a boneca. E, por ironia do destino, foram os cuidados com o cabelo que causaram o acidente. "Eu fui pegar uma escova". Pele morena. Cabelos negros, compridos. É a aparência da mulher ribeirinha. A mistura que vem da miscigenação entre índios e europeus. A ribeirinha é também o alvo mais comum dessa tragédia amazônica, 80% das vítimas do escalpelamento são do sexo feminino. Na maioria dos acidentes o escalpelamento é total, quer dizer, todo couro cabeludo é arrancado e os cabelos não voltam a crescer.
O tratamento é doloroso e dura mais de dez anos. A primeira etapa é repor a pele do crânio com enxertos retirados das pernas. "Eu espero que eu fique boa pra poder voltar logo pra minha casa, pra estudar". Quando o acidente não é tão grave, há uma possibilidade de se recuperar o couro cabeludo. Os médicos recorrem ao expansor, uma espécie de bolsa, que é colocada por baixo da pele do paciente. Toda semana, a prótese recebe soro fisiológico e vai enchendo. O objetivo é esticar a pele e aumentar o couro cabeludo. "É como se eu causasse o que? Uma gravidez nesse couro cabeludo, e essa gravidez causada no couro cabeludo, mais tarde quando eu tirar, esse aparelho vai me sobrar bastante tecido", explica o cirurgião plástico Victor Aifa.
O escalpelamento no norte do país é mais comum do que se imagina. Santarém, Altamira e Barcarena são os municípios que registram mais acidentes deste tipo. Nos últimos 20 anos, quase 200 vítimas foram atendidas na Santa Casa de Belém, 5% morreram. A cada mês, dois acidentes em média são registrados no Pará. Acompanhamos uma fiscalização da capitania dos portos. Veja o que a repórter encontrou durante a blitz.
Da cidade de Belém seguimos para o furo do maracujá, perto da capital. Logo na primeira abordagem já verificamos a falta de segurança. O motor e o eixo deste barco estão sem proteção. Mas o dono diz que não tem perigo viajar assim. "Entrou criança aqui é tudo pra frente, não deixa passar aqui pra trás"As embarcações sem proteção tiveram as habilitações suspensas. Mas a capitania dos portos admite a dificuldade para fiscalizar os barcos por causa da geografia da região. Outro problema é a falta de registro dos casos de escalpelamento. "As embarcações são de caráter familiar e os proprietários das embarcações, portanto, os responsáveis são familiares das vítimas isso gera uma séria dificuldade para que o acidente chegue até a capitania", diz o Sargento da Capitania dos Portos, Daniel de Oliveira Lima.
Durante a viagem pelos rios do Pará nós encontramos este metalúrgico que faz a cobertura dos eixos com aço. "Proteção do volante e do eixo, kit completo".A cobertura custa R$ 90. Mas os ribeirinhos, que geralmente montam os próprios barcos, não têm dinheiro para comprar o kit. Uma ONG, fundada por este médico, quer levar o serviço de forma gratuita aos moradores das regiões mais pobres e já fez parcerias com o governo e a iniciativa privada.
O cirurgião plástico Claudio Brito criou a ONG Sarapó depois de conhecer de perto o drama das escalpeladas. Desde 2001, ele presta assistência às vítimas. "O sofrimento dessas meninas não se resume ao acidente. Depois vêm inúmeros curativos, cirurgias e não é só isso, um momento mais difícil é esse, a hora de encarar o espelho, sempre cruel e implacável ao revelar as mutilações do escalpelamento", diz.
O cirurgião plástico Claudio Brito criou a ONG Sarapó depois de conhecer de perto o drama das escalpeladas. Desde 2001, ele presta assistência às vítimas. "O sofrimento dessas meninas não se resume ao acidente. Depois vêm inúmeros curativos, cirurgias e não é só isso, um momento mais difícil é esse, a hora de encarar o espelho, sempre cruel e implacável ao revelar as mutilações do escalpelamento", diz.
"Não consegui, não gostava, dava vontade de quebrar o espelho, ficou muito feia, mas agora já passou". "Eu quebrava o espelho, chorava, passava, eu sofria muito, fiquei com depressão", dizem as vítimas.
Além da dor e do sofrimento estas meninas têm que enfrentar outro drama: o preconceito. "Eu sabia que as pessoas iam olhar pra ti assim nossa olha só aquela garota não tem cabelo, não tem orelha, isso foi difícil pra mim, pelo comentário das pessoas". "Os pivetes puxaram o boné da minha cabeça, aí todo mundo achando graça, foi muito triste, muito triste mesmo". "Muita gente vinha em casa, queria ver, dizia que tava feio, sofri demais, mas me recuperei disso", contam as meninas.
Depois de tanto sofrimento, essas meninas pensam agora no futuro. E elas têm muitos planos. Joice, que traz no rosto e no pescoço as marcas do escalpelamento, está na segunda série e passa as tardes brincando com os amiguinhos. Ela vai ser dama de honra no casamento de uma tia e diz que precisa ensaiar para a cerimônia. Enquanto ensaia Joice sonha com um presente. "Eu quero uma peruca".
Além da dor e do sofrimento estas meninas têm que enfrentar outro drama: o preconceito. "Eu sabia que as pessoas iam olhar pra ti assim nossa olha só aquela garota não tem cabelo, não tem orelha, isso foi difícil pra mim, pelo comentário das pessoas". "Os pivetes puxaram o boné da minha cabeça, aí todo mundo achando graça, foi muito triste, muito triste mesmo". "Muita gente vinha em casa, queria ver, dizia que tava feio, sofri demais, mas me recuperei disso", contam as meninas.
Depois de tanto sofrimento, essas meninas pensam agora no futuro. E elas têm muitos planos. Joice, que traz no rosto e no pescoço as marcas do escalpelamento, está na segunda série e passa as tardes brincando com os amiguinhos. Ela vai ser dama de honra no casamento de uma tia e diz que precisa ensaiar para a cerimônia. Enquanto ensaia Joice sonha com um presente. "Eu quero uma peruca".
Fonte: Domingo Espetacular
Cade a fiscalização??? E cade a responsabilidade delas também???
ResponderExcluirSabem o risco que correm e continuam utilizando esse meio...=/
Estou perplexa!!!!nunca ,pude imaginar tal atrocidade!!!
ResponderExcluirkde as ongs?kd a onu?essas pessoas precisam de ajuda.precisa fazer uma conscientizaçaõ a população brasileira precisa saber disso... kde os jornais???? kd o poder brasileiro... vamos mudar essa historia.
ResponderExcluirParabens pela inciativa e pela qualidade do trabalho.
ResponderExcluirPode ser instalado uma proteção nessas partes que mutilam as pessoas, cadê a fiscalizão sobre isso e também consietização das pessoas que parecem pensar que o problema não tem solução, e ficam esperando a próxima vítima.
ResponderExcluirporque nao botam algum tipo de proteção na porra destes barcos
ResponderExcluirQue absurdo ... nunca tinha ouvido falar disso. O que é mais chocante é que esse tipo de acidente pode ser evitado com o uso de uma proteção simples tanto do motor da embarcação, como também nos cabelos dessas crianças e mulheres vítimas, por exêmplo o uso de bonés
ResponderExcluirou fazer um coque na cabeça, usar uma touca, etc
Excluirnunca tiha ouvido falar deste tipo de acidente,tem que ter uma proteção nos barcos.
ResponderExcluirParabéns pelo blog... lindo trabalho!
ResponderExcluireu fico muito triste por essas mulheres e garotas
ResponderExcluirnossa fiko pensando ,como deve ser dificil para essas mulheres.. sejam firme pq deus esta recolhendo cada lagrima .. e mas na frente sua recompeça vira..
ResponderExcluirEu sinto muito por essas mulheres e meninas mais o cabelo não é tudo,agradeça a Deus por estar viva!!!!
ResponderExcluirDeixe de julgar...exerça misericórdia...E se fosse vc?
ExcluirOLA MEU NOME É AURILIA, SOU DE CATANDUVA, INTERIOR DE SÃO PAULO.
ResponderExcluirDIA 14 DE ABRIL DESTE ANO MINHA MÃE VEIO A SOFRER ESCALPELAMENTO TOTAL, ATE ENTÃO NUNCA TINHA OUVIDO FALAR SOBRE ISSO. ELA ESTA NOS PRIMEIROS MESES DE TRATAMENTO E FREQÜENTES CIRURGIAS.
MAS AGRADEÇO À DEUS POR TER POUPADO SUA VIDA!
O ACIDENTE VEIO ACONTECER EM UMA METALÚRGICA ONDE ELA EXERCIA A FUNÇÃO DE TORNEIRA MECÂNICA, SEU CABELO FOI PUXADO PELO EIXO DE UM TORNO.
Lorena, parabéns pelo blog... é muito triste a situação dessas crianças e adolescentes escaupeladas...
ResponderExcluirVc teria uma mapa da situação em todo o brasil, número de acidentados por região/estado?
Eu sou de Brasília e estou muito interessado em colaborar de alguma forma para ajudar essas pessoas. Abraços fraternais, Celso.
Vi na tv, que existem profissionais que preparam perucas e as doa à essas mulheres. Como e onde fazer doação de cabelo?
ResponderExcluirlorena tenha certeza que só essa divulgação já ajuda bastante,seria muito importante que os governantes tivessem uma postura como a sua, e se dignasse a ajudar essas pessoas realmente.
ResponderExcluirParabéns!todos precisam ver a realidade desse nosso país.
ResponderExcluirQue horror não seria melhor fazer um barco mais seguro? e essas vítimas foram indenizadas, isso não é um barco é um mutilador de gentes, a marca ou fabricante desses barcos deviam assumir a culpa!
ResponderExcluirEstou com o cabelo comprido e vou corta-lo. Gostaria de doar para as meninas que sao escalpeladas nos barcos, vc poderia me passar o contato para reslizar a doaçao? Desde ja agradeço, Solange.
ResponderExcluirOi o meu Nome é Edilza atualmente moro em Natal e alguns anos vi a ong das meninas no Gugu, e senti muita vontade de doar o meu cabelo para a ong, já que a cada 2 anos eu dou ao hospital do câncer e prometi que quando retornasse a minha cidade eu iria doar a ong estou indo a Belém em outubro e gostaria do contato, desde já o meu muito obrigada
ResponderExcluirpelo amor de DEUS amazonia,,cuide melhor do transporte do seu povo,,e muito triste isso.
ResponderExcluirÉ muito sofrimento que essas crianças e mulheres passam. Nem acreditei quando li logo acima um comentário perguntando cadê a responsabilidade delas q sabem do perigo e ainda usam esse meio de transporte. Quanta ignorância!!!!
ResponderExcluirOs ribeirinhos nao tem acesso a muita coisa que temos: educação, saúde, lazer, são um povo esquecido no meio do mato, pessoas instruídas muitas vezes sabem que coisas como dirigir embriagado, usar drogas de todo os tipos lhes fazem mal e continuam a fazer isso, imagina um povo que não tem acesso a informação, crianças que pra chegar até a escola tem que andar horas de barco, não estou menosprezando os ribeiros, nem duvidando de sua inteligência, mas esse é meio que eles tem de se locomover e isso vai demorar a mudar, não existem políticas pra resgatar esse povo que só é lembrado em ano eleitoral. Triste, lamentável.